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O aumento das intervenções estéticas no Brasil

A CORRIDA DA BELEZA

Introdução
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Bochechas menores, nariz mais fino, lábios mais carnudos, abdômen com ‘’gominhos’’. Estes são alguns dos pedidos realizados a profissionais da saúde nas clínicas e salas de cirurgia no Brasil, que em 2018, chegou ao primeiro lugar no ranking dos países que mais realizam cirurgias plásticas no mundo. 

Segundo dados da  Sociedade Brasileira de Odontologia e Estética (SBOE), a procura por cirurgias estéticas cresceu cerca 300% nos últimos 5 anos. O Google Trends, plataforma que reúne as pesquisas realizadas por localidade durante período do tempo, mostra o crescente interesse dos brasileiros no termo ‘’rinoplastia’’, cirurgia estética que modifica o nariz, ou no famoso procedimento ‘’harmonização facial’’, preenchimento com ácido hialurônico que visa promover determinados traços no paciente.

PESQUISA PELO TERMO ‘’HARMONIZAÇÃO FACIAL’’ DE 2016 PARA 2023

Nesta reportagem especial, procuramos entender o que leva o brasileiro a adentrar na chamada ‘corrida da beleza’.

‘’Eu sempre tive vontade de melhorar meu sorriso e não sabia como, mas também eu nunca tive persistência de resolver esse problema’’, diz a arquiteta Marcela Torres, de 40 anos, paciente da cirurgia ortognática. Ela conta que se incomodava com a anatomia da sua região do maxilar, mas que procurou ajuda com a questão após ter sido alertada pelo marido. Marcela sofria de apneia do sono, chegou a perder cerca de 15kg durante a pandemia de covid-19, mas ainda sim o problema não era resolvido. 

A questão do sorriso não era o único incômodo estético dela, que não prendia o cabelo por causa de suas orelhas. Foi por esse motivo que Marcela realizou a otoplastia, a cirurgia de ‘’correção’’ de orelhas de abano. Segundo ela, ‘’o sorriso e a orelha eram dois sonhos antigos de criança mesmo;  a gente se preocupa mais com a saúde, aquela saúde básica, né. A estética ela já fica em segundo plano, mas de certa forma é a saúde emocional também’’.

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Depois e antes da cirurgia ortognática da arquiteta Marcela Torres 

A questão do sorriso não era o único incômodo estético dela, que não prendia o cabelo por causa de suas orelhas. Foi por esse motivo que Marcela realizou a otoplastia, a cirurgia de ‘’correção’’ de orelhas de abano. Segundo ela, ‘’o sorriso e a orelha eram dois sonhos antigos de criança mesmo;  a gente se preocupa mais com a saúde, aquela saúde básica, né. A estética ela já fica em segundo plano, mas de certa forma é a saúde emocional também’’.

Saúde e qualidade de vida foram também as razões para a influenciadora e professora Kátya Santos tomar a decisão de realizar a cirurgia bariátrica, após um momento difícil da sua vida: a morte de seu pai. Com quase 150 kg e aproximadamente 1,57 de altura, ele apresentava diversos problemas de saúde por complicações da doença, que o fizeram falecer em 2019. Kátya, que tinha um histórico de problemas com o peso, se sentiu triste por, segundo ela, "estar indo no mesmo caminho que ele [o pai]’’, conta. 

Em 2020, antes do início da pandemia de covid-19, a influenciadora chegou a pesar aproximadamente 100 kgs. Foi em uma consulta com a nutricionista que ela descobriu a possibilidade de ser candidata à cirurgia bariátrica, uma vez que a obesidade ocasionava várias comorbidades, entre elas, a hipertensão, fator de risco durante a pandemia da covid-19.

Não fui eu que procurei a cirurgia bariátrica, ela que me achou.”
-Kátya Santos
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Kátya Santos antes e depois de emagrecer 47 kg

Para Katya, os resultados foram satisfatórios e não ficaram restritos apenas ao aspecto corporal. Ao contrário do que as pessoas pensam, uma cirurgia bariátrica afeta inúmeras áreas do corpo humano, e a principal de todas é o psicológico.  “Muitas pessoas diziam que eu ia morrer, que eu ia engordar tudo de novo, e que eu não tinha corpo para isso, como se a cirurgia bariátrica fosse apenas uma questão estética, e não era. A minha questão era totalmente de saúde”.


São comentários como esses que influenciam na baixa autoestima da pessoa que está lutando em uma guerra na mente. Katya enfrentou tudo isso e fez questão de frisar que hoje ela se enxerga como uma pessoa “normal”, pois não é mais vista com apontamentos negativos voltados para o seu corpo.

“Eu renasci no dia 23 de outubro de 2020, faltando 5 dias para completar um ano do falecimento do meu pai”, complementa a influenciadora.

Pré e pós operatório das cirurgias reparadoras da Katya Santos

A pressão social em cima de pessoas obesas acaba refletindo na prática do bullying, e isso repercute significativamente no psicológico desses indivíduos. De acordo com a neuropsicóloga Ingrid Marielly, que trabalha com avaliação psicológica para cirurgia bariátrica e demandas de transtorno alimentar, a prática da agressão psicológica é um dos fatores que influencia na decisão de uma pessoa obesa procurar por uma cirurgia bariátrica.

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Ingrid Marielly - BullyingA Corrida da Beleza
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O paciente obeso que sofre com comentários depreciativos tem comprometida não só a sua saúde física, mas também, como disse a psicológa Ingrid, “a saúde mental é totalmente afetada” e isso vai acarretando outros problemas, como a compulsão alimentar. A professora e influencer Katya Santos é um exemplo dessa batalha, ouça um trecho do relato. 

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Katia Santos - CompulsãoA Corrida da Beleza
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Onde tudo começou
ONDE TUDO COMEÇOU

As cirurgias plásticas surgiram com o objetivo de reparar partes do corpo danificadas após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Para deixar seus pacientes com uma aparência mais parecida com a “normalidade”, Sir Harold Gillies - considerado o pai da cirurgia plástica - inovou com a possibilidade de fazer enxerto de pele em localidades fragilizadas. Essa técnica abriu um mar de possibilidades para o campo estético que temos hoje, evoluindo para cirurgias mais complexas que permitem até a recuperação básica de movimentos e funções corpóreas.

“Marinheiro Willie Vicarage com rosto desfigurado por um tiro durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Créditos: acervo Sir Harold Delf Gillies.”

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Geralmente, ao pensarmos em intervenções estéticas e cirurgias plásticas, logo nos vem à mente apenas médicos, mas Gillies não trabalhava sozinho. A equipe de trabalhadores da saúde, que fazia os soldados terem uma nova chance de vida, era composta também por dentistas, e posteriormente esteticistas auxiliando na reintegração ao ambiente social. 

A princípio, a cirurgia plástica reconstrutora foi a precursora de todo o movimento de técnicas funcionais que, por consequência, desencadearam cirurgias plásticas com finalidade somente estética. Aqui entramos num ponto chave, existe então diferença entre cirurgias plásticas e intervenções estéticas? A resposta é sim. 

A cirurgia plástica pode ser de dois tipos, reconstrutiva ou reparadora. Essa última possui uma finalidade totalmente estética, que não altera as funcionalidades do corpo humano, como por exemplo a lipoaspiração. Já a cirurgia reconstrutiva vem para reestruturar partes que foram avariadas em acidentes ou em casos de “deformidades”. No fim das contas, as cirurgias podem acabar se entrelaçando e colaborando para correção funcional e resultando numa mudança estética.

 

As intervenções não cirúrgicas, conhecidas popularmente como procedimentos estéticos, são todo tipo de mudança no corpo para retardar o envelhecimento natural e modificar a estrutura de um local sem perder sua funcionalidade. Elas também não precisam de cortes, internação e sedação do paciente. A cirurgia plástica é uma intervenção estética, porém nem toda intervenção estética é cirurgia plástica.

Necessidade ou Transtorno
NECESSIDADE OU TRANSTORNO?

Segundo o médico cirurgião plástico Fernando Gomes, especialista na área há 20 anos, a busca pelas cirurgias plásticas na atualidade tem a ver com a necessidade de se expor. ‘’É a necessidade que o próprio meio que você ? solicita para mostrar o que é. Se você não fizer isso, é antigo, fora dos processos e do mercado’’, opina.

Para o profissional, a cirurgia plástica no Brasil passou a ser encarada como um produto, assim como os procedimentos invasivos não cirúrgicos, e isso gera uma padronização. ‘’Todo mundo quer ter o rosto retangular, as maçãs do rosto proeminentes. É o fenômeno 'fofão'", pontua o médico, fazendo alusão ao personagem da década de 80. Ele tinha as bochechas grandes e o nariz arrebitado, aparência semelhante a alguns pacientes que aplicaram ácido hialurônico demasiado na região das maçãs do rosto, com rosto desproporcional.

A partir da busca implacável pela perfeição, surgem os exageros, oriundos de uma dismorfia, podendo ser corporal ou facial. Colocar 20 litros de prótese mamária, retirar costelas até chegar a cintura mais fina do mundo e até fazer cirurgias em sequência com o objetivo de se tornar o ‘’Ken humano’’, são alguns dos casos que nos levam a questionar os limites de tais modificações na aparência. 

Para a psicologia, essa condição de insatisfação extrema com a aparência, corpo ou rosto caracteriza-se como dismorfia, ou mais precisamente como Transtorno Dismórfico Corporal. Na maioria das vezes, aquilo que é considerado ‘’defeito’’ é imperceptível e considerado comum para a maioria das pessoas, mas para o indivíduo é causa de sofrimento e insatisfação, atrapalha sua a vida pessoal e profissional, e pode causar até transtornos mentais.

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Dismorfia Corporal - Imagem: Vitória Ester 

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As Influências

AS INFLUÊNCIAS

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O olhar do outro
O OLHAR DO OUTRO
E A PRESSÃO ESTÉTICA

Aliar estética à qualidade de vida é uma das razões comuns quando falamos sobre a procura por intervenções estéticas, porém, quando surge a pressão social e a busca pela perfeição - ambas motivadas pelos outros -  o que  não incomoda, passa a ser uma questão.

Durante uma entrevista no programa Saia Justa, do canal GNT, a apresentadora Xuxa Meneghel contou que passou por procedimentos estéticos não autorizados durante a juventude, influenciados pela sua empresária na época, Marlene Mattos. No relato, que veio à tona em março deste ano, ela revela que procurou a sala de cirurgia para aumentar seus seios e deixar semelhante a como estava durante a gravidez. A médica sugeriu modificações no corpo de Xuxa, que não autorizou. Horas depois, ela acordou com seios maiores, lipoescultura e até botox no rosto.

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A mudança é sempre um desejo? 

Existe uma série de fatores externos que influenciam na tomada de decisão para realizar algum procedimento estético. Eles estão relacionados, sobretudo, ao modo como enxergamos o meio em que vivemos, mas também possui forte ligação com o consumo midiático, consciente ou inconsciente, que reproduz padrões de beleza produzidos historicamente.

A popularização das intervenções estéticas se somam a estes fatores para criar um ambiente propício para que pessoas, que até então não tinham questões com a própria aparência, se decidam a fazê-las, criando um aspiral, um coletivo que busca a beleza. 

Historicamente diferentes padrões de beleza foram almejados pela sociedade, transformados à medida que as pessoas mudavam de percepção, acompanhando o que a mídia e as propagandas, mais recentemente, disseminavam como ideal de beleza.

Propaganda de calça Jeans nos anos 80

É como nos conta o Profº Ronaldo Bispo, doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com experiência na área de Estética da Comunicação. “O consumo extenso de imagens transformou a indústria cultural na principal influência de padrões de beleza na atualidade", afirmou Bispo.

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Entrevista com Profº Ronaldo Bispo - Foto: Vitória Ester

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Ronaldo Bispo - Influencia da IndustriaA Corrida da Beleza
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O professor também explicou que a passagem da cultura de massa, ou seja, das mídias antigas (livros, jornais impressos, revistas, rádio e TV) para uma cultura digital (com o auxílio da internet) permitiu que houvesse uma explosão do polo de emissão. Ou seja, temos mais pessoas publicando do que se tinha antes.  

“Se tem mais gente publicando, tem mais diversidade. Então essa possibilidade deve ser investigada. Essa diversidade de publicações pode ser um fator de relativização desse padrão estético hegemônico”, afirmou. 

Por outro lado, Bispo também esclarece que o padrão estético hegemônico domina grande parte das postagens dos influencers digitais, assim como dos ambientes de mais destaque como novelas, filmes e séries. Mesmo assim, ele ainda acredita que existe espaço para afirmação de uma diversidade de estética bem maior, onde é possível buscar por referências com as quais cada um possa se identificar, onde a pessoa possa se sentir mais confortável. “Então seria um pouco como buscar o seu nicho”, completou.

"Eu quero ficar assim"
 “EU QUERO FICAR ASSIM’’

É possível que você tenha reconhecido ao menos um dos corpos presentes no gif acima. As três celebridades: Inês Brasil, Kim Kardashian e Gkay têm algo em comum, um histórico de intervenções estéticas. 

A busca incessante por procedimentos estéticos e cirurgias plásticas para estar dentro do “padrão” é comum entre as celebridades e as digitais influencers, seja no Brasil ou no mundo. Basta ler os comentários das publicações  dessas figuras públicas nas redes sociais para perceber como elas influenciam o cotidiano das pessoas, principalmente quando o assunto é estética. É como se um gatilho fosse despertado entre suas seguidoras pela “perfeição corporal”, estimulando o desejo do público feminino em seguir esses modelos estabelecidos, muitas vezes, pelo meio digital.

“Eu quero ter o corpo das Kardashians” é uma das frases mais repetidas nas redes sociais.

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Usuários do Twitter postam seu desejo de ter o corpo das Kardashians

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Quando o clã Kardashian - Jenner surgiu na mídia, em 2007, compartilhando o dia a dia da família no programa de televisão Keeping Up With The Kardashians, inúmeras áreas foram afetadas, especialmente o mercado de beleza e as cirurgias plásticas. Diga-se de passagem que os Estados Unidos lideram o ranking de cirurgias plásticas no mundo, principalmente devido ao fator de ascensão econômica no país. Isso possibilitou que não só pessoas com um poder aquisitivo maior procurassem as clínicas para fazer os procedimentos, como também  pessoas de outras classes tivessem também acesso a eles.

O Cirurgião plástico Dr Fernando Gomes comenta sobre a influência das figuras públicas na tomada de decisões:

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Fernando Gomes - Redes SociaisA Corrida da Beleza
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Facilidade e Disseminação
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FACILIDADE E DISSEMINAÇÃO

O que é disseminado tende a ser visto como algo fácil e acessível. Isso se torna um problema quando se trata de intervenções estéticas, procedimentos que possuem implicações na saúde das pessoas. Para alguns profissionais, o paciente agora é só mais um a quem oferece produtos, quase que um molde a ser seguido, utilizando dos mesmos produtos. Ocasionando os “mesmos” resultados, de acordo com o que está em alta, indo além do que o cliente muitas vezes quer.

Na corrida para popularização e rentabilidade desses procedimentos, alguns dos profissionais infringem regras. Essas são algumas das atividades promovidas por eles, sobretudo nas redes sociais: realização de sorteios, comparativos de antes e depois e até combos promocionais. 

 

O pacote do “rosto perfeito” é vendido, gerando uma padronização nos pacientes, ou melhor, clientes. Sobrancelhas arqueadas, lentes de contato dentárias, lábios carnudos, maçãs do rosto enxutas, maxilar quadrado, zero papadas, nariz empinado, pálpebras sem excesso de pele, olheiras inexistentes e testa menor são os intervenções que geram um padrão de resultados. 

 

O exemplo de influencers que fizeram procedimentos estéticos e acabaram ficando semelhantes é o caso da Mc Mirella e Fernanda Medrado, que na época da exibição do reality show Power Couple Brasil, chamou a atenção dos internautas por terem traços parecidos. Para a coluna do jornalista Leo Dias, a especialista Priscilla Martelli comenta sobre quais foram esses procedimentos e como há a banalização da harmonização facial. 

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MC Mirella e Fernanda Medrado tem traços parecidos - Imagens: Repordução da Internet

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É nesse sentido que, ao conversar com especialistas da área da estética e pesquisar perfis famosos de procedimentos estéticos no Instagram, se descobre que não existe um “catálogo”, mas sim uma referência que o paciente pode ou não mostrar durante a avaliação com o profissional. 

 

Tendo isso em mente, o observado é que os resultados, por seguir quase sempre a mesma resposta fisiológica, acabam sendo muito semelhantes. O botox aplicado nos lábios, antes de ser absorvido pelo corpo, muitas vezes fica com o mesmo aspecto, se colocado com exagero, se sobressaindo para além dos lábios. Isto é, existe uma linha tênue entre o desejo do cliente, o que o profissional quer fazer e o resultado.

A esteticista Alice Maria comenta que a avaliação do paciente é essencial, para alinhar as condições de saúde, o estado, as questões voltadas às contra indicações e os recursos que melhor se enquadram. Desse modo, não é qualquer profissional da saúde que pode realizar qualquer intervenção estética, por mínima que ela seja, pois tem toda uma questão de regulamentação e ética por trás. Segundo ela:

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-Alice Maria
Alice Maria - Procedimentos EstéticosA Corrida da Beleza
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O ramo da estética está totalmente ligado aos outros, como medicina, odontologia e afins. Muitas vezes se esquece que alguns desses procedimentos também fazem parte da gama de intervenções estéticas, e não há uma escolha com sabedoria do profissional que vai realizar o atendimento, julgando não ser nada demais. Porém, é aí que surge a insatisfação com resultados inalcançáveis e propagandas enganosas sobre algo que não funcionará com todos os corpos, sendo cativado, muitas vezes, apenas pelo preço e a ânsia de estar junto à moda.

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Esteticista Alice Maria fazendo tratamento - Foto: Arquivo Pessoal

No âmbito da estética clínica, Alice diz que os procedimentos que mais saem atendimento em sua clinica são: A redução de medidas, rejuvenescimento facial, tratamento de celulite, redução de manchas e tratamento contra a queda capilar.

A profissional conta que tais procedimentos não são procurados somente pelas mulheres, mas também pelos homens, principalmente o tratamento de queda capilar para aqueles que sofrem com calvície. Apesar da procura ser discreta, já que a vaidade masculina ainda é tabu, e da pressão social em relação a aparência feminina ser maior, os homens também se sentem ‘’incentivados’’ a entrarem nos padrões. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), os homens estão procurando mais por cirurgias plásticas e essa procura quadruplicou em um período de cinco anos (2017 -2022), passando de 72 mil para 276 mil ao ano, uma média de 31,5 procedimentos por hora. E isso reforça  que cada vez mais o público masculino está deixando de lado os tabus impostos pela sociedade e estão investindo na aparência física.

Em entrevista à revista Quem, o ex-bbb Vyni contou que passou a se sentir mais desejado por outros homens depois de uma série de procedimentos estéticos.

 

Ele afirmou: ‘’Depois que fiz a harmonização mudou da água para o vinho. Percebo que os homens que eu sempre quis hoje me querem. Hoje sei o que é ser desejado. Já fiquei até desconfortável em situações como a de um amigo querer ficar com uma pessoa que, na verdade, quer ficar comigo. Isso não acontecia antes’’.

Do corpo para a mente

DO CORPO PARA A MENTE

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A pressão social sofrida na infância e na adolescência, através do bullying e insegurança, por exemplo, promovem a idealização de um tipo de corpo “ideal, tornam fortes as possibilidades de se desenvolver um distúrbio de imagem, o chamado Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). Esse tipo de transtorno é caracterizado pela percepção alterada e negativa que um indivíduo tem do seu próprio corpo, ao ponto de se enxergar diferente ao se ver no espelho. 

Em resultado dessa dismorfia, a pessoa pode acabar sofrendo psicologicamente desenvolvendo depressão, ansiedade e transtornos alimentares como: bulimia, anorexia e até compulsão alimentar. 

O Doutorando em psicologia Rosivaldo Almeida explica qual é o perfil dos pacientes que mais se queixam de problemas com autoimagem. 

Rosivaldo Almeida - Perfil dos pacientesA Corrida da Beleza
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Rosivaldo também explica sobre o que uma pessoa pode fazer para manter sua  mente saudável.

Rosivaldo Almeida - Saúde MentalA Corrida da Beleza
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Segundo ele, os transtornos de depressão e ansiedade podem agravar o quadro de quem sofre com a dismorfia. ‘’Com essa sensação de imagem disforme, causada pela depressão, a pessoa tem a sensação que não é querida, que não é amada. É comum que as pessoas que têm ansiedade desenvolvam Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), e aquele que é o compulsivo pode desenvolver alguns comportamentos, como a destruição da autoimagem’’, conclui.

"Coloca um filtro aí"
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“COLOCA UM FILTRO AÍ’’

As redes sociais já contam com 4,7 bilhões de usuários ativos em todo o mundo, segundo a plataforma Resultados Digitais. Elas detém o poder de influenciar não somente nas tomadas de decisões para comprar um produto, mas também conseguem disseminar ideais de corpo e imagem. 

O Instagram, em especial, como 4ª rede mais utilizada no momento, com cerca 1,4 bilhões de usuários ativos em todo o mundo, por ter sua textualidade fundamentada na linguagem visual. Na mesma linha, o app “vizinho” Tik Tok, rede social mais baixada em 2021, orienta-se para o uso da linguagem audiovisual, deixando o Instagram em segundo lugar. 

Dentre as funcionalidades que esses aplicativos possibilitam está a utilização de uma variedade enorme de filtros, que já vinham sendo utilizados desde 2015 no Snapchat. Muitos desses filtros têm a capacidade de alterar o formato do rosto, aplicar maquiagem e até mudar o tom da pele. Enquanto uns utilizam esse recurso por diversão, outros utilizam para melhorar sua aparência.

Os filtros podem ser motivadores para realização de procedimentos estéticos, como é o caso da cantora Anitta, conhecida por ser veterana em cirurgias plásticas e procedimentos estéticos. Em seus stories, a cantora divulgou sua consulta com o Dr. Newton Morais, na qual, apresenta para o médico uma foto dela com um filtro do Instagram e pede que o seu preenchimento labial ficasse da mesma forma. Mesmo depois do processo, ela declarou: “Eu vou voltar, que ele colocou só aqui igual aquele filtro. Só que podia ser mais um pouquinho".

E é nessa onda de aumento da não aceitação da própria imagem sem manipulação, que surgem cada vez mais filtros a cada dia. Vivian Carvalho que é criadora de filtros, nos contou como foi a sua experiência com seus filtros que mais viralizaram chegando a ter 300 Milhões de impressões. 

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Vivian Carvalho - Criação de FiltrosA Corrida da Beleza
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Vivian também nos conta como aconteceu a popularização dos filtros e como aconteceu a democratização do acesso às ferramentas de criação, o que tornou a criação mais viável a ponto de qualquer usuário, com um conhecimento mínimo, poder gerar seu próprio filtro.

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Vivian Cavalho - Facilidade de AcessoA Corrida da Beleza
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Cirurgia Digital
CIRURGIA DIGITAL

Como é o caso da fotógrafa e artista estadunidense Vanessa Rivera, que reimagina suas fotos familiares em cenários fictícios criados por ela mesma através de sua criatividade e dos programas de edição. Ela utiliza seus filhos como modelos, e em seguida edita as fotos repaginando todo o cenário e os objetos ao seu redor. Isso prova a grande variedade de possibilidades que um aplicativo pode oferecer.

Antes da criação dos filtros esse processo de alteração da imagem no meio digital já acontecia no mundo da fotografia. Os softwares, como Photoshop e Lightroom da Adobe, são os preferidos dos fotógrafos, pois eles tem inúmeras possibilidades além de somente corrigir algumas “imperfeições”. Ou seja, a fotografia de hoje em dia não se limita somente ao ato de clicar no disparador da câmera e em imprimir a foto.

A fotografia evoluiu para se adequar ao novo cenário, e hoje conta com várias etapas e conceitos. Dentre eles, baseando-se até mesmo na vivência do fotojornalismo, estão a edição, tratamento e manipulação. E é na manipulação em que ocorrem as distorções, aplicação de objetos e modificações corporais. O que pode resultar em fotos desastrosas ou trabalhos artísticos incríveis.

Processo de edição da imagem - Vanessa Rivera

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Imagem - Vanessa Rivera

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Antes e Depois da Edição - Imagens: Vanessa Rivera

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O fotógrafo e desenvolvedor de software Gabriel Syphan, nos conta o quanto é comum as pessoas pedirem para alterar as  “imperfeições” e quais são as alterações mais comuns durante o processo de edição e manipulação das imagens, e o que mais as pessoas pedem para ajustar. 

Gabriel também ressalta a reação das pessoas ao verem suas fotos antes e depois do processo da edição.

Ele ainda afirma que nem sempre os transtornos de imagem são a razão principal para a pessoa querer modificar algo durante a edição da fotografia. E ainda destaca que “O importante é sempre respeitar os limites da realidade e não exagerar nas modificações, para que a foto não perca sua autenticidade”.

Auto aceitação
É SÓ EU ME ACEITAR?

Nos movimentos de bodypositive e skinpositive o corpo e a pele são aliados ao bem-estar da pessoa consigo mesma. Mas o que são esses movimentos? O body postive, na tradução literal seria o corpo positivo, mas no Brasil a corrente ganhou força como Movimento Corpo Livre, isto é, o corpo é morada da uma mente sã e corpo são.

Basicamente trata-se da autoaceitação de corpos diferentes, uma vez que todo indivíduo possui características únicas. Para o movimento, a liberdade de ser quem você é, independente de peso, raça, marcas e vivências, é o que prevalece.

Nesse sentido, a corrente skin postive, que aborda apenas a aceitação da pele com “imperfeições” e no estado natural - com espinhas, cravos e manchas - vem se sobressaindo no TikTok. O movimento é pertencente ao body positive, mas ganhou destaque com os vídeos curtos de incentivo a rotinas saudáveis para peles reais.

Esse crescimento dos movimentos de aceitação vem ganhando força com plataformas digitais. Algumas influenciadoras digitais são marcas carimbadas no segmento e ajudam milhares de pessoas com seus conteúdos. Mas então, é só se aceitar? 

Conversamos com a influenciadora Lara Cunha sobre o movimento Corpo Livre, a corrente bodypositive, todo o processo de reconhecimento do próprio “eu”, dos padrões impostos pela sociedade e de como superar todos esses desafios. Lara escreveu um livro contando sua história de ódio com o próprio corpo desde muito nova, uma realidade para muitas pessoas consideradas fora do “padrão”.

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Influencer Lara Cunha - Foto: Arquivo Pessoal

“Conheci o movimento através da Alexandra Gurgel, uma das precursoras da corrente, em 2017. Eu tinha transtorno alimentar e uma relação difícil comigo mesma, comecei um tratamento terapêutico e também com nutricionista comportamental para me ajudar nesse processo e foi aí que a chave virou”

- Afirmou Lara.

Lara comenta que as pessoas respeitam mais a presença dela depois que começou a se posicionar e a falar sobre a temática na internet. É como se fosse um escudo. Seus familiares, amigos e colegas evitam se depreciar e falar mal das características físicas de outra pessoa na frente dela, com a justificativa de que Lara se sentirá incomodada. Mesmo se posicionando fortemente, ainda assim as pessoas ao seu redor não mudaram a maneira de pensar e tampouco de agir.

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É Possível se libertar da pressão estética SIM!
Lara Cunha - Pressão EstéticaA Corrida da Beleza
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A partir das nossas conversas com todos os profissionais entrevistados, listamos 5 atitudes que podem ajudar a melhorar a relação intrapessoal.

A partir das nossas conversas com todos os profissionais entrevistados, listamos 5 atitudes que podem ajudar a melhorar a relação intrapessoal.

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Temos um longo caminho a ser percorrido na “corrida da beleza”, talvez o trajeto leve o tempo de uma vida, mas é possível adiantar o processo se houver um autocuidado antecipado.

Sobre
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